#Elas na cultura

Carolina Maria de Jesus: da favela para as livrarias de mais de 40 países

9 de agosto de 2022

A história que você vai ler a seguir é de uma mulher destemida e nos mostra que não importa de onde saíamos ou para onde voltamos, mas o que queremos ser. Carolina Maria de Jesus, mulher favelada que sabia escrever livros, tornou-se a maior e mais popular escritora negra brasileira. 

Boa leitura, 

Ana Claudia 

Mineira de Sacramento, Carolina Maria de Jesus nasceu em 14 de março de 1914 numa família humilde, numerosa e descendente de escravos. A menina curiosa e observadora só pode cursar as duas primeiras séries do primário. Porém, isso não a impediu de realizar seu sonho: ser uma escritora.  

Desde a infância conviveu com a discriminação e com a falta de oportunidades que as mulheres, em especial as negras, sofrem. Mas isso acabou sendo a matéria-prima de seus poemas e diários. A família morou em diversas cidades, sempre em habitações precárias. 

Em 1947, Carolina Maria de Jesus chega a São Paulo e engravida um ano depois. Solteira e abandonada pelo companheiro, vai morar na rua pois ninguém dava emprego para uma mãe solteira. Por conta de uma campanha de higienização social promovida pelo então governo do Estado, acabou na favela do Canindé. 

Construiu o próprio barraco e passou a viver como catadora. E era no lixo que encontrava papéis para escrever seus diários. E, na observação da dura realidade que a cercava, o material para suas criações literárias. “O maior espetáculo do pobre da atualidade é comer”, escrevia ela quase 60 anos atrás. 

E ainda: “Aniversário de minha filha Vera Eunice. Eu pretendia comprar um par de sapatos para ela. Mas o custo dos gêneros alimentícios nos impede a realização dos nossos desejos. Atualmente somos escravos do custo de vida. Eu achei um par de sapatos no lixo, lavei e remendei para ela calçar”. 

A descoberta de Carolina Maria de Jesus 

Seu primeiro livro “Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada”, lançado em 1960, foi um enorme sucesso, com tradução em 14 idiomas e mais de um milhão de exemplares vendidos. Cerca de 1.500 convidados compareceram ao lançamento. 

A escritora negra e favelada que ouviria de Clarice Lispector “a grande escritora aqui é você, porque você escreve com a realidade”, foi descoberta durante uma reportagem na favela. O jornalista Audálio Dantas, impressionado com os escritos de seus diários, publicou em matérias trechos do material. Aliás, o “Quarto de Despejo” é um compilado dos seus 20 diários. 

A escritora dos marginalizados conheceu a fama e lançou ainda em vida os livros Casa de Alvenaria (1961), Pedaços de Fome (1963), Provérbios (1963). Bem como gravou um LP com músicas de sua autoria. Virou notícia em diversos jornais do mundo. Saiu finalmente da favela e mudou-se para uma casa no bairro de Santana, zona norte de São Paulo. 

No entanto, sua crítica social passou a não interessar mais. O sucesso cessou e ela voltou para a favela e a catar papel para sobreviver. Carolina Maria de Jesus morreu aos 63 anos, de asma, em fevereiro de 1977. 

Porém, a importância da sua obra voltou à tona, bem como o seu reconhecimento póstumo. Em fevereiro, por unanimidade, recebeu o título de Doutora Honoris Causa da Universidade Federal do Rio de Janeiro. 

Em outras palavras, a história de Carolina Maria de Jesus nos mostra que podemos ser o que quisermos e que sempre é tempo para aprender. Ela quis ser escritora e, apesar de todas as adversidades, realizou o seu sonho. 

“Gosto de manusear um livro. O livro é a melhor invenção humana” 

“Quem não tem um amigo, mas tem um livro, tem uma estrada” 

  

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