#Elas na cultura

Chiquinha Gonzaga, a mulher que compôs sua própria história

22 de junho de 2022

Chiquinha Gonzaga é uma daquelas maravilhosas transgressoras que abriram alas, arrebentaram portas e preconceitos e que nos inspiram até hoje. Assim, foi roteirista e protagonista de sua própria história. Enfrentou preconceitos e se impôs como mulher e profissional. Com isso, deu vida à grande musicista feminista, abolicionista e republicana. Porém, para abrir a passagem para seu futuro, foi banida da sociedade carioca e viu muitas portas se fecharem atrás de si. Afinal, seu comportamento não era o esperado para uma mulher “direita” em meados do século 19.

Nascida em 17 de outubro de 1847, Francisca Edwiges Neves Gonzaga era filha de um rico e rígido militar, foi educada para ser uma “boa moça” da sociedade. Nisso se incluía aulas de piano. Assim, surgiu o talento e o amor pela música. Sua primeira composição foi aos 11 anos de idade, a canção natalina Canção dos Pastores.

No entanto, o destino das “boas moças de família” era o casamento. Aos 13 anos foi obrigada pelo pai a se casar com um homem que não suportava, o oficial da marinha Jacinto Ribeiro do Amaral.  No entanto, seu espírito libertário falou mais forte. Não suportou as amarras e proibições e abandonou o marido, com o qual teve os filhos João Gualberto e Maria. Sofreu as consequências, de então, impostas às mulheres “largadas”. 

Mesmo assim, seguiu em frente com seus ideais e com a música. Do novo casamento com João Batista de Carvalho, um engenheiro de estradas de ferro, nasceu a filha Alice Maria. Por não aceitar as traições do marido, mais uma vez se separa e perde a guarda da filha. 

Chiquinha Gonzaga: a mulher que marcou a cultura brasileira

A autora da primeira marcha carnavalesca com letra, “Ó Abre Alas” (1899), teve de quebrar muitas barreiras até conseguir viver como musicista. Foi professora de música e de francês e tocava piano em lojas de instrumentos musicais. O primeiro grande sucesso veio aos 30 anos com a polca “Atraente”.  Mesmo assim, o sonho de trabalhar com teatro ainda demoraria para se concretizar. Além do preconceito de criar um filho sozinha, do seu primeiro casamento, Chiquinha viu muitas de suas composições serem recusadas e críticas negativas. No entanto, a persistência fez com que em 1884 estreasse sua opereta “Festa de São João”.

Compositora extremamente produtiva, passou a dedicar-se exclusivamente à música, sendo reconhecida em diversos estilos. Ou seja, valsas, tangos, choro e samba, entre outros. São mais de 2 mil composições de sua autoria. Aliás, Chiquinha Gonzaga foi uma defensora dos direitos autorias e uma das fundadoras da Sociedade Brasileira de Autores Teatrais, em 1917. Despertou para a causa ao ver muitas de suas obras sendo vendidas sem autorização.

Mulher à frente de seu tempo e sem amarras, aos 52 anos volta a viver uma grande paixão. Desta vez por João Batista Fernandes Lage, um estudante de música de 16 anos. Contudo, acaba escondendo o relacionamento, temendo o preconceito e para evitar escândalos que pudessem prejudicar seus filhos e sua carreira. Adota João Batista como filho e muda-se para Portugal. Voltaram ao Brasil e viveram juntos até o fim de sua vida.

Um legado e uma inspiração

Sempre se aprimorando em seu ofício, além de ser a primeira pianista de choro, foi a primeira mulher a reger uma orquestra no Brasil, com a peça “A Corte na Roça, em 1885”. Por seu protagonismo em adaptar o som do piano ao gosto popular é reconhecida como a primeira compositora popular do Brasil.

A importância de Chiquinha Gonzaga para a cultura brasileira é imensa, embora mereça muito mais reconhecimento. Morreu aos 87 anos às vésperas do carnaval de 1935, expressão cultural para a qual criou a Marcha-Rancho, considerado o ritmo oficial. Aliás, desde maio de 2012, o dia do seu nascimento, 17 de outubro, é dedicado à Música Popular Brasileira – MPB.

Chiquinha Gonzaga: mulher que inspira e nos faz lembrar que, sim, podemos ser o que quisermos. Afinal, barreiras existem para serem transpostas e podemos abrir alas dos nossos corações e passar com nossos ideais.

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